No
acórdão do mensalão, previsto para ser publicado nesta semana, os
quatro deputados federais condenados no julgamento do Supremo Tribunal
Federal (STF) são citados como participantes de um esquema de
articulações políticas, troca de favores e recebimento de propinas.
Desde que as penas foram definidas, porém, três deles assumiram postura
discreta e agem na penumbra da Câmara, fugindo diariamente dos holofotes
— e da atividade parlamentar.
Os gastos com os gabinetes, porém,
continuam na ativa. Considerando salários regulares, vencimentos extras e
uso da cota, o quarteto condenado no STF custou cerca de R$ 1 milhão
aos cofres da Casa desde a condenação.
A maioria das penas dos réus foi
definida pela Corte na última semana de novembro do ano passado. Daquela
data em diante, a atuação de João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro Henry
(PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP) — que já evitavam aparecer — foi
reduzida sensivelmente. No período, eles não apresentaram projetos, não
relataram propostas de colegas, não fizeram discursos ou comentários em
plenário nem tiveram participação ativa nas comissões.
Cunha, Henry e Valdemar raramente são
vistos nos corredores, no plenário ou em reuniões importantes. “Eles
aparecem em um horário estratégico, marcam presença no plenário só para
dizer que vieram e saem em seguida”, relata um funcionário da Câmara que
acompanha o movimento no Salão Verde. “Quase nunca param para
conversar, porque muitos deputados evitam ser fotografados ao lado
deles”, acrescenta outro servidor.
A exceção é José Genoino, do PT-SP.
Desde que tomou posse como suplente, em janeiro, ele circula no
parlamento sem constrangimento. Já usou o microfone do plenário 24 vezes
para discursos ou comentários sobre projetos, questões regimentais e
homenagens. Em março, ele e João Paulo Cunha foram designados pelo PT
para integrarem a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Enquanto o
colega do banco de réus compareceu a apenas metade das reuniões e evita
participar das discussões, Genoino é assíduo e pede a palavra mais de
uma vez no mesmo encontro.
Relatoria - Na última semana, ele foi o
relator do projeto que aumenta a pena do crime de sequestro de vítimas
grávidas e doentes, aprovado no plenário. Na CCJ, também defendeu o
governo na votação sobre o orçamento impositivo e bateu de frente com
oposicionistas, que conseguiram aprovar a proposta que obriga o Planalto
a executar todas as emendas parlamentares.
Genoino alega que, ao contrário dos
colegas, não se sente intimidado em exercer a atividade parlamentar
mesmo com a condenação a 6 anos e 11 meses de prisão em regime
semiaberto por corrupção ativa e formação de quadrilha. “Sou um
parlamentar por natureza e gosto de falar mesmo.”
De acordo com a assessoria do deputado,
ele costuma chegar à Câmara às 8h e só vai embora no fim das sessões. Já
o gabinete de João Paulo Cunha, condenado por corrupção passiva,
peculato e lavagem de dinheiro a 9 anos e 4 meses de prisão em regime
fechado, afirmou que a rotina do deputado não foi modificada, e que ele
“está preparando” uma série de projetos para serem apresentados. Cunha,
ainda segundo sua assessoria, recebe dezenas de prefeitos diariamente em
seu gabinete e atua na articulação política, preferindo não aparecer
muito.
A assessoria de Pedro Henry justifica
que a ausência do deputado em seis sessões do plenário este ano e em 66%
das reuniões da Comissão de Seguridade Social, de que participa,
deve-se a sua peregrinação na Esplanada em busca de recursos. Graças à
insistência nos ministérios, ele teria garantido a liberação de quase
100% de suas emendas individuais ao Orçamento. Henry foi condenado por
lavagem de dinheiro e corrupção passiva a 7 anos e 2 meses, em regime
semiaberto.
A reportagem entrou em contato com a
assessoria de Valdemar Costa Neto, mas não teve resposta até o
fechamento desta edição. O parlamentar paulista foi condenado a 7 anos e
10 meses em regime semiaberto, mais pagamento de multa de R$ 1,08
milhão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
Fonte VG. Noticias



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