Servidores presos mentiram ao MPE para acobertar esquema

Publicado por Unknown | quarta-feira, 23 de setembro de 2015 | 11:23

Promotor afirmou que eles estariam acobertando esquema envolvendo verbas de suprimentos

O promotor de Justiça Roberto Turin: servidores prestaram declarações falsas ao MPE
LUCAS RODRIGUES
DO MIDIAJUR
O promotor de Justiça Roberto Turin afirmou que boa parte dos 22 servidores da Assembleia que foram presos, na manhã desta quarta-feira (23), durante a Operação Metástase, já haviam prestado depoimento ao Ministério Público Estadual (MPE) neste ano.

Porém, segundo o promotor do Núcleo de Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa de Cuiabá, eles teriam “mentido” para acobertar o esquema que apura suposto desvio de R$ 2 milhões do Poder Legislativo Estadual, entre 2010 e 2014, por meio de fraudes na utilização da verba de suprimentos.

A verba, de R$ 4 mil por servidor, é concedida mensalmente aos servidores dos gabinetes dos deputados para compras em geral e custeio de outros serviços. O benefício foi extinto pela atual Mesa Diretora da Assembleia.

“Houve essas prisões para evitar combinação de depoimentos e também porque muitos deles vieram aqui no Núcleo do Patrimônio Público e mentiram. Disseram que realmente tinham comprado material, tinham recebido o serviço, que a empresa tinha fornecido. E depois de checado com as empresas, se averiguou que não era verdade. Isso também configura declaração falsa e outros crimes
"Ficou constatado depois que eles estavam acobertando esse desvio na Assembleia. A prisão é para que eles esclareçam o porquê disso"
contra a administração pública".

Conforme já antecipado pelo MidiaNews, em junho deste ano o promotor havia pedido uma auditoria ao presidente da Assembleia, Guilherme Maluf (PSDB), em razão da suspeita de que tais verbas estariam sendo desviadas (veja AQUI).

A suspeita do MPE teve início com as informações obtidas com o compartilhamento de provas da Operação Ararath, que foi possibilitada por decisão judicial do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Esquema em detalhes

De acordo com Turin, que investiga o caso em conjunto com os promotores do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), os servidores presos eram os responsáveis por fazer a prestação de conta do uso dessas verbas de suprimentos.

As investigações apontaram que os envolvidos faziam compras fictícias de marmitas e materiais gráficos, com uso de notas fiscais falsas, para justificar o uso do dinheiro.

“Nós checamos as notas com a Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz) e com as empresas, que, em tese, teriam fornecido os materiais. Essas empresas demonstraram que nunca forneceram tais produtos e que aqueles números das notas não pertenciam a elas, sendo que as notas não eram registradas na Sefaz”, explicou Turin.

Com a constatação de que os servidores mentiram ao depoimento ao MPE, Turin contou que o caso deu vazão à atuação do Gaeco, em razão dos indícios de que tais servidores praticaram os crimes de formação de quadrilha, desvio de dinheiro, falsificação de documentos e uso de documento falso.

“Ficou constatado depois que eles estavam acobertando esse desvio na Assembleia. A prisão é para que eles esclareçam o porquê disso”, disse.

Possível envolvimento de políticos

Turin não descartou a possibilidade de parlamentares ou ex-parlamentares terem integrado o esquema.

No entanto, o promotor adiantou que só após a oitiva dos envolvidos o MPE terá mais subsídios para apurar se algum deputado participou ou chefiou as fraudes.

“Esse suprimento de fundos era administrado por servidores que pertenciam, á época, ao gabinete do José Riva e ao gabinete da presidência. Mas é sabido que essa mesma verba era recebida por quase todos os gabinetes nesse período. Isso pode ser um foco maior de investigação. O que a gente quer descobrir dos servidores é exatamente isso: se esse dinheiro que foi desviado estava com eles, se era um golpe dos próprios servidores, ou se eles faziam isso recebendo ordens, para depois entregar o dinheiro para algum parlamentar, ou administrador da assembleia”, afirmou.

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